Manaus, 28 de março de 2024

O Prédio Oscar Ramos

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Fruto da fortuna do auge do extrativismo amazônico e da exploração da borracha vegetal, seu elemento mais expressivo, o símbolo de Manaus é o Teatro Amazonas, com sua cúpula brilhando ao bom sol dos trópicos ou sob as luzes das noites da cidade. Se o Teatro Amazonas é o símbolo de Manaus, o Prédio Oscar Ramos é o emblema de Itacoatiara, uma das mais antigas e históricas cidades do Estado. Confirma a imagem da Velha Serpa a presença dessa casa famosa, de tal modo que provoca a sensação de que sem ela não existiria a cidade. Construídos com os efeitos da produção da hévea, esses dois bens do patrimônio cultural do Amazonas surgiram no mesmo período desse ciclo econômico, o teatro em 1896 e o prédio Oscar Ramos em 1903. Mas uma particularidade os distingue, o teatro é obra do poder público e o prédio é o resultado da iniciativa privada.

Na entrada da cidade a quem chega pelo rio, a casa é a primeira imagem que surge na baixada que desenha a rua da frente, banhada pelas águas nos tempos de cheia. Por sua feição encanecida, ao visitante assalta o receio de que um dia aquela casa possa vir abaixo e com ela se apague o maior símbolo da cidade, porque, enfim, cuida-se de uma casa anciã, hoje contando com cento e onze anos de existência. Sua história possui episódios empolgantes. Foi construída, em estilo normando, por um empresário alemão e, em seguida, repassada a um comerciante amazonense. Serviu ao escritório central da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e, por fim, em 1915, foi adquirida pelo empresário português Oscar Ramos, até hoje sob o domínio patrimonial de seus descendentes, isto é, com apenas um ano para completar cem anos de sua posse.

As atividades econômicas, centradas no extrativismo vegetal, como se deram na Amazônia do ciclo da borracha vegetal, eram tocadas pelas casas aviadoras. Elas exerciam o papel das instituições financeiras hoje representadas pelos bancos. Essas casas se concentravam nas maiores cidades da região como Belém, no Pará, e Manaus, no Amazonas. Poucos se estabeleciam como o empresário português Oscar Ramos, numa pequena cidade do interior. Em Itacoatiara ele se situou e aí operou uma empresa comercial que vendia mercadorias, comprava a produção da terra e a exportava para outros centros desenvolvidos do país ou do Exterior. Itacoatiara constituía o segundo porto mais importante do Estado, visto ser estratégica a sua localização, para onde convergia o resultado das atividades produtivas do baixo-Amazonas e do rio Madeira, nos setores da caça e da pesca, e da coleta de artigos da floresta como a borracha.

Francisco Gomes da Silva, o historiador de Itacoatiara, informa de que o poder público da Velha Serpa já adotou providências através de uma lei municipal considerando patrimônio da cidade o seu centro histórico, área em que está plantado o Prédio Oscar Ramos. Mas o que se espera é que o poder público adquira por meio de desapropriação legal esse bem e aí instale um centro de cultura e educação, quem sabe as próprias secretarias dessas duas esferas administrativas do município, ou dispondo dos espaços desse casarão para ambientes de exposição de arte e outros eventos de tal natureza. Talvez aí se pudesse criar um complexo cultural, reservando-se uma sala destinada à exposição permanente de elementos representativos das atividades econômicas do período, até como forma de homenagem ao notável empreendedor que foi o velho Oscar Ramos.

O que é certo é que há necessidade de se proteger esse patrimônio da cidade. Eis uma sugestão, na falta de outra melhor.

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