Manaus, 29 de março de 2024

Nova luz contra a aids

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*Thaís Botelho 

O lançamento de um teste doméstico para a detecção do vírus HIV é ótima notícia para frear a epidemia.

No fim do ano passado, o Ministério da Saúde divulgou um dado preocupante a respeito da aids no Brasil- das cerca de 840000 pessoas infectadas com o HIV, pelo menos 112000 não sabiam ter o vírus até apresentar sintoma. Não sabiam, portanto, que tinham, a doença. A ignorância é um atalho para a propagação do agente ausador da aids. Apesar dosextraordinários avanços no tratamento, especialmente com os coquetéis retrovirais, distribuídos a partir de 1996, pouco se progrediu na detecção de lá para cá, e os casos continuaram a crescer. De 2011 a 2016, eles dobraram no Brasil (veja o quadro). No mundo, o número de infectados aumentou de 34 milhões em 2011 para 36,7 milhões em 2016. Houve algum freio a partir de 2012, com a aprovação de testes caseiros pelo FDA; o órgão regulador de remédios dos Estados Unidos.

Na semana passada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um produto desse gênero para distribuição em território nacional.

Com o nome comercial Action, o autoteste de HIV vem com um líquido reagente, uma microagulha para furar o dedo, um sachê de álcool e um pequeno tubo para coletar o sangue. O resultado aparece na forma de linhas que indicam, depois de quinze a vinte minutos, se na amostra coletada há ou não a presença do anticorpo contra o vírus. O lançamento do produto está previsto para junho, mas seu preço ainda não foi definido. Estima-se-que não passe de 60 reais. Em estudos, o teste mostrou-se 99,9% eficaz. Vale ressaltar: a presença do vírus só é detectada trinta dias depois da contaminação, período necessário para que o organismo produza anticorpos em níveis detectáveis.

Um teste simples como o de gravidez é uma ótima notícia. De acordo com um levantamento publicado no periódico PLOS Medicine, o estigma e o medo ainda impedem muitas pessoas de comparecer a um centro de saúde para fazer o exame que verifica a infecção pelo HIV. Aparelhos caseiros para detectar o vírus são uma alternativa precisa e aceitável para quem busca mais privacidade e, portanto, podem auxiliar no controle da epidemia de aids. É o que concluiu um time internacional de pesquisadores após analisar 21 investigações que avaliaram a estratégia do autoteste em sete países – ao todo, mais de 12 000 indivíduos participaram desses trabalhos. Mas há problemas. “O resultado deverá ser sempre estudado por um profissional de saúde, uma vez que existem os falsos positivos”, diz Artur Timerman, infectologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo, que trabalha com pacientes infectados pelo HIV há mais de trinta anos. Em caso de resultado positivo, recomenda-se sempre refazer o teste com um médico.

*Jornalista. Matéria na Revista Veja edição 2531, de 24/05/2017.

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