Manaus, 29 de março de 2024

Mais 50 anos de Laissez-Faire

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A Câmara Federal, em meio à intensa movimentação política visível e, quem sabe, por uma movimentação financeira invisível, aprovou, em primeiro turno, a prorrogação do modelo Zona Franca por mais 50 anos o que vai alimentar discursos demagógicos nas próximas eleições. Se o modelo já tinha muitos pais, agora essa quantidade se avoluma e o Amazonas passa a “dever” muito aos novos heróis e heroínas, algumas das quais apareceram na telinha, sem qualquer participação teórica ou prática, pois não sabem nada sobre politica (no bom sentido), teorias econômicas e desenvolvimento humano.

Agora vamos ter mais meio século para dormir em “berço esplêndido”, com os governantes tratando de gastar o dinheiro proveniente do PIM, com obras eleitoreiras caríssimas que equivocadamente chamam de infraestrutura, embora sejam de superestrutura, pois infraestrutura é configurada pela parte invisível que configura uma sociedade. Lamentavelmente a “ingnorança astravanca o progressio” no momento atual da vida brasileira, embora proporcione muitos lucros empresariais e pessoais além de vantagens pessoais.

Um liberalismo perverso

Entendo que hoje o modelo Zona Franca não pode ser extinto de forma brusca, mas essa prorrogação deveria ser nova oportunidade para o Amazonas encontrar seu próprio caminho, usando a biodiversidade em um Polo de Bioindústrias, cujos produtos têm um nicho de mercado sem competidores desleais que impedem os trabalhadores de reivindicar melhores salários e qualidade de vida. Uma greve justa como a dos servidores da Suframa seria impossível na China.
O problema é que o modelo Zona Franca (e suas empresas coloniais), importantes em um momento, acabou se perenizando e criando um sistema perverso de concentração de renda e distribuição de miséria, como mostram e provam os números do Produto Interno Bruto e do Índice de Desenvolvimento Humano. Para não ficar parecendo um “auauau, caixa de fósforo” reproduzo valores do PIB e seu percentual sobre o PIB estadual, e o IDH de três emblemáticos municípios, em 2010: Manaus: PIB: R$ 48.598.153.000 (81,3%); IDH: 0,737. Coari: PIB: R$ 1.376.424.000 (2,3%); IDH: 0,586; Atalaia do Norte: PIB: R$69.960.000 (0,11%); IDH 0,450.

A realidade Amazônica

A vida no hinterland é diametralmente oposta ao “way of life” dos bairros mais badalados de Manaus como Morada do Sol, Ponta Negra e Vieiralves que guardam uma distância abissal de outros bairros manauaras como Cidade de Deus, Zumbi, Puraquequara, etc., e têm uma distância só medida em anos luz, com qualquer local da cidade de Atalaia do Norte que, ufanisticamente é chamada de Princesa do Javari.

O Brasil empobreceu

O lulismo trouxe, junto (ou por conta) da falta de escolaridade e de muita vivacidade politica (no mau sentido) de seu líder, um decréscimo na qualidade moral e ética do Brasil que se difunde por todos os setores de atividade, embora se deva registrar a existência de honrosas exceções pessoais. Os crimes cometidos pelas elites econômicas e pelo mundo dos pobres e muito pobres, são similares do ponto de vista moral, mas a impunidade preparada legalmente para os ricos irrita a porção ética da sociedade que grita por penas mais duras e redução da maioridade penal, mesmo sabendo que os mecanismos de proteção aos adolescentes ricos vão permanecer e até serem aprimorados.
E como o PIB vai aumentar, ainda que em percentuais insignificantes, a caríssima propaganda midiática vai se intensificar transmudando o significado do ridículo e sem dizer que os valores do PIB mais escondem do que revelam, pois mostram o preço de tudo sem revelar o valor de nada.
O atraso é tão imenso que o Brasil voltou ao tempo dos filmes de Far West que mostravam grandes proprietários barrando córregos para garantir a dessedentação de seus rebanhos, embora suas barragens impedissem os pobres de ter acesso à água.
Esse lastimável cenário brasileiro atual mostra o Amazonas lutando para privilegiar os ricos do modelo Zona Franca e mostra a briga entre o Rio e São Paulo pela água. Nesse caso especifico, o governador Alkmin (dos ricos) pretende retirar (barrar) a água de um rio (córrego) para dessendentar sua população, retirando a água dos “pobres” do Rio de Janeiro. Espero que essa briga de “cowboys” não tenha a adição de índios lutando por suas terras, exatamente como, nas décadas de 1930, 1940 e 1950, quando diretores geniais, como John Ford e William Wyler antecipavam essa realidade que se repete muitos anos depois em um Brasil medíocre.

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