Manaus, 29 de março de 2024

Gustavo Capanema

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Foi Getúlio Vargas quem criou o primeiro órgão centralizador das ações do governo nos campos da educação e cultura. Fundando em 1930 o Ministério da Educação e Saúde Pública também se encarregava da Cultura. Não demorou muito para que a cultura fosse tomada com uma questão de profilaxia, tantos foram os artistas presos e perseguidos, ou cooptados e neutralizados. Para assumir a nova pasta, Getúlio nomeia inicialmente Francisco Campos, que ali não demora, sendo sucessivamente substituído por Belisário Pena e Washington Pires.

Em julho de 1934, nomeia finalmente Gustavo Capanema, um político de grande sagacidade, homem de convívio afável, esguio e elegante, mas que sabia organizar equipes de trabalho. Em pouco tempo o discreto antigo interventor de Minas Gerais se faria cercar por certas personalidades como Mário de Andrade e Portinari, homens de vanguarda e de visão socialista, mas jamais escondeu suas posições de extrema-direita e sua admiração pelos regimes de Mussolini e Hitler.

A mistura de Hitler com Mário de Andrade é impossível, e até hoje se pergunta como Gustavo Capanema logrou convencer o magnífico poeta da Paulicéia Desvairada e o brilhante teórico da realidade brasileira a aderir ao regime de Vargas. A hipótese do velho fascínio dos intelectuais e artistas brasileiros por cargos no governo, não é suficiente para explicar o que aconteceu, É claro que a tentação de fazer alguma coisa numa terra em que tudo está por ser feito, deve ter mobilizado o espírito irrequieto de Mário, mas a explicação mais plausível é que tanto Gustavo Capanema quanto o poeta comungavam de uma grande ideologia que se pode denominar de ultra modernismo, ou seja, a utopia de moldar racionalmente sociedades inteiras, Esta ideologia jamais explicitada unificava a esquerda e a direita e fascinava os líderes e intelectuais dos países atrasados como o Brasil. Enquanto Gustavo Capanema articulava a moldagem de um certo Brasil descendente dos bandeirantes, com um povo racialmente purificado pela eugenia, Mário de Andrade acreditava poder moldar o Brasil de seus sonhos, uma nação mestiça cheia de bibliotecas, galerias de arte, de gente culta, célere e moderna. O pior de tudo ISSO, é que é de um incômodo sem precedentes a fama de grande ministro, de fundador da política cultural moderna do Brasil, adquirida por Gustavo Capanema.

Estudando os seus discursos, os seus atos, percebemos que não se tratava exatamente de uma política cultural, muito menos de uma política educacional, ele não agia exatamente como um Ministro da Educação e Saúde. Gustavo Capanema estava mais para um ministro da Propaganda, uma espécie de Dr. Goebbels sem chucrute, sem o fanatismo teutônico, um gauleiter com pão-de-queijo e muita esperteza mineira. Se de um lado ele se cercava daquela turma de modernistas, politicamente nunca se afastou de seu correligionário Lourival Fontes, ou do amigo Francisco Campos, este sim um refinado ideólogo do fascismo tropical e autor da Constituição que Getúlio enfiou goela abaixo do Brasil, carinhosamente batizada de A Polaquinha, para lembrar outro golpe fascista, este acontecido na Polônia. Em 1937 o novo golpe põe o regime nos eixos: agora era realmente uma ditadura com o objetivo de fazer a redenção do Brasil. Um novo programa de desenvolvimento social e econômico começa a ser esboçado, alijando-se dele a cultura e em seu lugar introduzindo a tecnologia. Mas a cultura não foi abandonada.

Os ideólogos sabiam da importância da arte como propaganda, a atuação das linguagens artísticas no inconsciente nacional. A solução encontrada foi politicamente brilhante: manter a herança da ideologia do favor, não reconhecendo o trabalho artístico como trabalho, mas criar equipamentos institucionais para fomentar e conduzir a produção cultural. E assim ficou até hoje, criando artistas pedintes.

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