Manaus, 25 de abril de 2024

Grão-Pará x Rio de Janeiro

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Terminei a crônica de domingo passado falando da estrutura urbana do Grão-Pará. Registrei Belém com a capital daquela administração colonial portuguesa, mas havia também a Capitania do Rio Negro, cuja capital era Barcelos, que conheceu um importante desenvolvimento antes de Manaus, e para a qual foi contratado o arquiteto e urbanista de Bolonha, Antônio José Landi. Em compensação, a colônia chamada Brasil dependia amplamente da agricultura e da agroindústria, tendo, portanto, uma forte proporção de mão-de-obra escrava. Em meados do século XVIII, tanto o Grão-Pará quanto o Brasil conseguem criar uma forte classe de comerciantes, bastante ligados à importação e exportação, senhores de grandes fortunas e bastante autônomos em relação à Metrópole. Mas enquanto os comerciantes do Rio de Janeiro deliberadamente optaram pela agricultura de trabalho intensivo, como o café, baseando-se no regime da escravidão, os empresários do Grão-Pará intensificaram seus investimentos na indústria naval e nas primeiras fábricas de beneficiamento de produtos extrativos, especialmente o tabaco e a castanha-do-pará. A anexação da Amazônia marcou o começo de um novo processo e provavelmente, aos olhos das elites do Rio de Janeiro, só poderia ser a força. Para as elites do Grão-Pará, o incidente das Cortes, liberais internamente, mas recolonizadoras para fora, e a intimidade com as ideias da Revolução Francesa adquirida na tomada e ocupação de Caiena, fez perceber que a via da república era mais adaptada à América que um regime monárquico. Os ministros do jovem e impetuoso Imperador brasileiro não podiam admitir tal coisa. E entre 1823 a 1840, o que vai se ver é um processo de provocação deliberada, seguida pôr uma severa convulsão social e a consequente repressão. Se me permitem a comparação, um tanto audaciosa, é como se o Sul tivesse ganhado a Guerra de Secessão nos Estados Unidos. Com a repressão, a Amazônia perdeu 40% dos seus habitantes. A anexação destruiu todos os focos de modernidade. Entre o Império e as oligarquias locais, nenhum diálogo era então possível. Se o Brasil é geralmente dado no exterior como um País de emoções, de irracionalidade, um País primitivo ou até folclórico, não podemos esquecer, no entanto, que ele herdou da colonização portuguesa uma grande capacidade de organização e de planejamento, assim como uma preocupação afirmada com os detalhes, Os portugueses sempre fixaram objetivos para si mesmos, Previam cada um de seus passos no continente latino-americano, Não consta na crônica da conquista a existência de portugueses em busca da fonte da juventude.

Muito menos puseram um pé na água para declarar, corno fizeram os espanhóis, que tinham se apossado do Oceano Pacífico inteiro corno Balboa.

Se o Império não tivesse tido que se haver com a Amazônia, ou, como disse José Honório Rodrigues, se não tivesse passado o tempo inteiro reprimindo revoltas populares, podemos estar certos de que o processo de expansão territorial do Brasil teria atingido as margens do Pacífico. A Amazônia passou, portanto, a ser uma fronteira entre uma zona de cultura brasileira predominante e um subcontinente onde se fala francês, holandês, espanhol, português. Por isso, temos de fazer jus a nossa história de modernidade, superando esses momentos de subserviência à Brasília.

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