Manaus, 28 de março de 2024

Em Santa Rosa, tem mulher na colheita do cacau

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*Mário Adolfo

Após o recolhimento, os frutos são’ descascados pelas mulheres da reserva e colocados em caixas de fermentação por alguns dias. Em seguida, são secos em carretas.

Lidar com as tarefas do extrativismo do cacau na RDS Santa Rosa é uma festa. Tanto na colheita quanto na quebra e na secagem das amêndoas há a presença das mulheres, que dão um ar de alergia e beleza à comunidade.

Por isso, o trabalho é feito entre risos, conversas animadas e rapidez. Enquanto duas delas dão o corte na casca do fruto, outras retiram as amêndoas e atiram dentro da bacia. Com a rapidez de uma linha de montagem.

Habitada por cinco famílias, que somam 40 pessoas no total, Santa Rosa produziu este ano 6 toneladas de cacau, na várzea.

Os cacaueiros estão espalhados no meio da floresta. Foi lá que encontramos o maior deles, com quase 10 metros, com frutos brotando nos caules e tronco da árvore.

Enquanto os homens se embrenham sob as copas dos cacaueiros para colher o fruto, as garotas se arrumam para iniciar o ritual da quebra. Vestem shorts e camisetas, arrumam o cabelo e até passam o batom. E garantem que isso não é somente porque o fotógrafo Ricardo Oliveira, do EM TEMPO, está por perto.

Quando os homens enchem os paneiros e completam a colheita, eles levam o cacau até o terreiro da comunidade e atiram sobre a relva onde as meninas Andreia, Natália, Sabrina, Rebeca e Fátima já estão acomodadas, em círculo, para descascar o fruto.

Depois de descascadas, as amêndoas são colocadas em caixas de fermentação por alguns dias. Em seguida, são secas em estufas. Mas, aí, o tralho volta para os homens, com mais disposição para ficar sob o sol e movimentar o rodo.
Todas as garotas que trabalham no extrativismo do cacau, em Santa Rosa, estão concluindo o ensino básico e sonham com a faculdade. Andreia Mar está se preparando para liderar a sua comunidade e conquistar novos mercados para a venda do cacau.

Para isso, ela ‘está fazendo o curso Liderança do Instituto de Educação do Brasil (IEB), viajando a Brasília uma vez por mês.

– Aqui em Santa Rosa, vendemos o cacau a R$ 7,00 e o atravessador revende para a cooperativa por R$ 37. É uma exploração e um dia vamos acabar com isso. Temos que negociar direto com a indústria do cacau -, diz Andreia, citando como exemplo os ribeirinhos de Boca do Acre, na confluência do rio Acre com Purus, no sul do Amazonas, que colhem cacau e o vendem a uma cooperativa que beneficia os frutos para enviá-los à Alemanha, onde viram chocolates em barra.

Ela reclama do valor do Bolsa Floresta, de apenas R$ 50. MO que significa isso para uma família de cinco pessoas, por exemplo? Mas é justa ao reconhecer o papel da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), que deu tudo o que os ribeirinhos precisam para explorar o cacau nativo do Madeira.

– Não é exagero dizer que, aqui, a FAS é a nossa prefeitura! -, diz a futura líder Andreia.

*Jornalista amazonense. Texto publicado no Caderno Especial do Jornal Amazonas Em Tempo, de 29/05/2019.

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