Manaus, 24 de abril de 2024

C&T, lições esquecidas do passado

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Ao descrever o “mito de Sísifo”,  filho de Éolo, deus dos ventos, e descendente direto de Prometeu, Homero o considerava o mais astucioso, sábio e prudente dos mortais, que teria acorrentado a própria morte.  Foi condenado pelos deuses a rolar um rochedo incessantemente até o cimo de uma montanha, de onde a pedra, graças a então evidentemente desconhecida Lei da Gravidade (ou da gravitação universal), de Newton (1642-1727), caía de novo impulsionada por seu próprio peso. Segundo a narrativa homérica, os deuses acreditavam não existir punição mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança.

Passando da mitologia grega ao Amazonas século XXI, há a salientar que, das discussões sobre a extinção da SECTI, afinal aprovada pela ALE na última quinta-feira, 5, restou forte impressão de “trabalho inútil e sem esperança”. Histórico distanciamento continua mantido pelas instituições de pesquisa e a universidade sobre aspectos do ecossistema amazônico. Um gap que a Secretaria não conseguiu eliminar e que resiste impavidamente ao tempo. Durante as manifestações contra sua extinção não se observaram referências à necessidade de avaliação crítica de desempenho (não confundir SECTI com FAPEAM) em relação ao efetivo cumprimento de suas metas de curto e longo prazo nesses 12 anos de existência. O governo, por outro lado, não explicitou claramente como o setor será administrado de agora em diante.

Inpa, Embrapa e Universidade devem o quanto antes se engajar de forma aberta e definitiva na busca conjunta de projetos arrojados que tragam soluções sobre o emprego de tecnologias aqui geradas em prol do aproveitamento dos recursos de nossa biodiversidade. A fragilidade da governança do sistema de C&T dificulta a fundamental difusão dos ensinamentos contidos nas inúmeras obras de pioneiros estudiosos da região; bem como de cientistas do Inpa nos campos da  biotecnologia, bioenergia e bioengenharia; da Ufam, Fucapi, Museu Goeldi, Embrapa, Universidade do Pará, empenhados em decifrar o enigma amazônico.

No livro “Moysés Isarael”, de 2014, a historiadora Etelvina Garcia, sua autora, documenta época em que a economia local era capitaneada por  “entrepreneurs” responsáveis pela produção de borracha, sorva, balata, cacau, madeira, piaçava, essência de pau-rosa, couros e peles de animais silvestres e pecuários e castanha-do-pará exportados para os Estados Unidos e Europa. Esse fluxo comercial-exportador sustentou nossa economia até o advento da Zona Franca de Manaus, em 1967. Nesse meio tempo, entretanto, não foram pesquisados e introduzidos sistemas de produção (pacotes tecnológicos) sobre algumas dessas espécies nativas. O Amazonas, em resultado ao seu cultivo extensivo e processamento agroindustrial (o que a Malásia fez com nossa borracha e os estados do Pará e da Bahia com o cacau e guaraná), hoje estaria auferindo importantes receitas de exportações.

Saliente-se o extraordinário senso de pioneirismo da firma I.B. Sabbá, então a maior empresa da Amazônia. Segundo Etelvina Garcia, em seu livro “O Amazonas em três momentos”, de 2010, nos anos 1950/1960 comandava “um complexo empresarial que faturava US$ 100 milhões anuais”.  Apoiado nas pesquisas e contatos internacionais explorados por Moysés Isarael, então um jovem de 20 anos, que se tornou sócio do tio, Isaac Sabbá, nasceu, em 1956, com capital 100% nacional, a primeira refinaria do Norte do país, empreendimento da Companhia de Petróleo da Amazônia (COPAM), com capacidade de refino de 5.000 barris diários.  IB Sabbá, JG Araújo, JS Amorim, Adalberto Vale (que fundou a Brasiljuta e construiu o Hotel Amazonas), Isaac Benzecry, dentre outros, fincaram os marcos estruturais da economia regional. A Universidade poderia reeditar a história e as experiências desses pioneiros e  difundi-las às novas gerações. A propósito, Moyses Isarael, aos 91 anos, referencial importante de nossa história, continua ativo diretor da FIEAM, que ajudou a fundar em 1960.

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