Manaus, 28 de março de 2024

Cem anos depois

Arenga de gigantes

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“O empenho de dois grupos de intelectuais constituídos de professores, médicos, jornalistas, poetas, contistas e ensaístas parecia servir de reposta heroica ao desânimo que começava a dominar a sociedade amazonense.”.

Virando as páginas da história cem anos depois de passados os acontecimentos mais marcantes, o ano de 2018 é inaugurado com o centenário de instalação da Academia Amazonense de Letras, entidade fundada com o nome de Sociedade Amazonense de Homens de Letras e instalada em 1º de janeiro de 1918, no Teatro Amazonas, com a reunião do que havia de mais expressivo dentre escritores e estudiosos, principalmente os chamados beletristas.

Antes do evento simbólico de fundação, os animadores daquele movimento haviam publicado edital convocando escritores, reunido na sede do jornal “A Imprensa” para debater o assunto, escolher os patronos das cadeiras, definir propostas de funcionamento, designar a comissão diretora provisória. O Conselho Diretor escolhido para o primeiro trimestre foi composto por Adriano Jorge, Carlos Chauvin, Benjamin Lima, Aurélio Pinheiro e Paulo Elheutério, que ficaram com o encargo de elaborar o Estatuto da entidade, tal como fizeram. Tempos difíceis devem ter sido aqueles. Gripe espanhola, repercussão da Guerra Mundial, empobrecimento pela queda da economia da borracha, abatimento econômico quase geral. As preocupações do governo estadual estavam centradas em preparar a cidade, os hospitais e a população para enfrentar a gripe. A comissão de médicos criada pelo governador Pedro Bacelar que também era médico atuou fortemente no . porto de Manaus, inclusive com a criação do hospital flutuante denominado de “Santa Bárbara”, além de dedicar esforços em postos de saúde nos bairros da Cachoeirinha, Vila Municipal, Giráo, Mocó, Colônia Oliveira Machado, São Raimundo, Constantinópolis e até no Teatro Amazonas foi instalado um posto para atendimento à população.

O comércio estava com suas atividades praticamente paralisadas. A mobilização foi geral. Governo, Exército, Associação Comercial, Força Policial, Universidade de Manáos, Tiro nº 10, Cruz Vermelha e sociedades de operários e beneficentes, todos se organizaram para enfrentar a crise de saúde pública, especialmente a partir de junho daquele ano.

Mesmo com cenário tão difícil, o governador Bacelar comprou o -antigo Palacete Sholz para transformá-lo em sede do governo e residência oficial do governador, e os ilustrados membros do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, fundado em 1917, começavam a movimentar o cenário cultural amazonense organizando a sede própria e realizando palestras e reuniões solenes.

O empenho de dois grupos de intelectuais constituídos de professores, médicos, jornalistas, poetas, contistas e ensaístas, seja no Instituto Histórico ou na Sociedade de Homens de Letras, parecia servir de reposta heroica ao desânimo que começava a dominar a sociedade amazonense naquela fase da vida amazonense.

Outra reação que deve ter contribuído para o comércio local foi a instalação do Banco Nacional Ultramarino na esquina das ruas marechal Deodoro com Quintino Bocaiuva, aliando-se aos esforços da campanha de valorização a borracha. A Sociedade de Medicina e Cirurgia funcionava em debates animados por Alfredo da Matta.

Sobre a Sociedade de Letras, desde 1920 denominada de Academia Amazonense de Letras, dizia um jornal da época: “toma acentuado relevo a sociedade de intelectuais recentemente fundada e que promete dar o maior destaque ao meio culto em que vivemos, despercebidos, muita vez, dos nossos poetas, tribunos e jornalistas, acostumados que estamos a contínua lufa-lufa pela conquista de outros bens que não os do espírito.”

Verifica-se, portanto, que vem de antes que esses valores que a Academia prega e aos quais seus membros se filiaram ao longo desses cem anos, eram reclamados quando da organização do silogeu, tal como nos dias que correm.

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